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A INFLAÇÃO É DUAS-CARAS… OU TRÊS, QUATRO

Querido e querida Viajante,


História 1: Na minha infância (lá pelos idos de 1995), um dos passatempos prediletos da família era ir ao McDonalds. Nossa, que delícia que eram os sanduíches - ou lanches, para os paulistas como eu que falam uma língua estranha - de lá. Lembro deles quentinhos, com porções muito bem servidas, um verdadeiro banquete em família. Hoje, quase 30 anos depois, as idas ficaram muito mais raras (responsabilidade do colesterol alto e da nutricionista…), mas ainda ocorrem; da última vez, minha impressão foi diferente - um sanduíche beeeem menor, uma porção de batatas fritas menor…


“Legal, qual o propósito disso?” Vou contar mais algumas histórias e notícias, para depois falar aonde quero chegar. Fica comigo mais um pouco!


História 2: Essa não é uma impressão do autor baseada em memórias de infância, mas a história da vida real - os servidores públicos federais ameaçam entrar em greve por reivindicação de reajustes salariais. Sem entrar na conveniência política de se é certo ou não pedir ou dar o aumento (o assunto é muito mais complexo do que qualquer oposição rasa entre serviço público x privado), fato é que os profissionais sentem que sua grana não compra mais as mesmas coisas e pedem a seu empregador (o Governo Federal) mais dinheiro.


História 3: Mais uma da vida real - Petrobras reajustando preço dos combustíveis às distribuidoras, o que muito provavelmente será repassado para o consumidor final na bomba.


Eu poderia citar muitas mais, mas acho que já deu para perceber a linha comum entre todas as histórias - aumento de preços, pagar mais pela mesma quantidade de bens ou serviços, pagar o mesmo valor por quantidade menor de um bem ou serviço… Todas estas histórias são exemplo do que é o que o noticiário, economistas e produtores de conteúdo carinhosamente chamam de inflação.

 

Exemplo concreto


Inflação, então, é o aumento generalizado dos preços de uma determinada economia. Sua outra cara é a perda de valor aquisitivo de uma moeda. A imagem abaixo mostra o quanto R$ 100,00 em 1994 (ano da adoção do Real como moeda corrente no Brasil) vale em termos de poder de compra hoje:


Fonte: InvestNews, 09/2020.


Que esta imagem quer dizer? Que R$ 100,00 em 1994 equivalem, em setembro de 2020, somente a aproximadamente R$ 16,00. Para que fique cristalino: R$ 100,00 em setembro/2020 compravam o equivalente ao que R$ 16,00 compravam em 1994.


Bem menos, né? E esta análise foi feita em 2020, quando a inflação no Brasil ainda estava sob controle. Nos últimos tempos, no entanto, ela voltou a crescer, então a mesma grana deve comprar menos ainda em fevereiro/2022. Eu sinto isso no supermercado, na feira, em qualquer lugar, e imagino que você também esteja sentindo.

 

Shrinkflation


“E quando o preço se mantém o mesmo, mas a quantidade diminui?” É a história do McDonalds que eu contei, e que não é privilégio de quem faz suas #méquizices - isso também é inflação. Se eu pago o mesmo valor por menos de algo, eu estou pagando mais por unidade daquele bem ou serviço. Em inglês, existe um termo interessante: “shrinkflation” - inflação por encolhimento. Hoje em dia, os órgãos de defesa do consumidor exigem que as empresas indiquem quando diminuem a quantidade de produto por embalagem, mas as letras são miúdas… muita gente acaba não vendo.


O resultado disso? O seu - e o meu - bolso fica impactado da exata mesma forma: pagando mais caro pelo mesmo tanto de hambúrguer, sabão em pó… não é fácil não, pessoal. Pra piorar: como sabemos que os preços estão efetivamente aumentando? Como entender o que a gente ouve no noticiário? Isso passa por entender como a inflação, ou melhor, as inflações são medidas.

 

Sopa de letrinhas - IPCA, IGP-M


Por que “as inflações”? Porque os índices que são publicados por diferentes órgãos (sejam públicos, como o IPCA do IBGE, ou privados, como o IGP-M da Fundação Getúlio Vargas) são índices calculados seguindo diferentes metodologias. Basicamente, quem publica um determinado índice seleciona uma cesta de produtos e serviços específica e mede os preços desta cesta ao longo do tempo. A cada produto / serviço é atribuído um peso e, com isso, monta-se uma fórmula que, ao final de todos os cálculos, “cospe” uma porcentagem de aumento generalizado de preços.


Só que as metodologias são diferentes. Cada uma delas pode privilegiar um ou outro produto ou serviço, ignorar outros e, portanto, chegar a resultados completamente diferentes. Exemplo: o índice IPCA acumulado de 12 meses em janeiro de 2022 foi de 10,38%; já o IGP-M acumulado de 12 meses foi de 16,91%. A diferença de metodologias explica essa diferença.


IPCA


O objetivo do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) é medir a variação de preços que impacta o consumidor final para famílias com renda de 1 a 40 salários mínimos residentes em diferentes áreas urbanas. Logo, ele privilegia os produtos e serviços já disponíveis ao consumidor e”ignora” altas relacionadas aos insumos de produção. Itens comuns na cesta incluem alimentação, transporte, luz e por aí vai.


IGP-M


Já o IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado) inclui em sua metodologia produtos e serviços chamados de “atacado”, ou seja, monitora as flutuações de preços de insumos de produção de bens e prestação de serviços. Ele é composto de três índices:


  1. IPA-M (Índice de Preços ao Produtor Amplo - Mercado) - mede flutuações de preços de produtos industriais e agrícolas.

  2. IPC-M (Índice de Preços ao Consumidor - Mercado) - mede flutuações de preços relacionados às despesas das famílias (similar ao IPCA).

  3. INCC-M (Índice Nacional do Custo da Construção - Mercado) - mede flutuações de preços relacionados à construção civil (mão-de-obra, matéria-prima e equipamentos.


Interessante notar que o IGP-M, por ter sua cesta mais ampla, tem maior impacto da flutuação do real frente ao dólar - ou seja, se o real se desvaloriza em relação à moeda dos EUA, a inflação sobe, porque há produtos / serviços na cesta que aumentam de preço quando isso acontece. Isso inclusive explica grande parte das diferenças entre IGP-M e IPCA ao longo do tempo.

 

Vários índices… qual usar?


São vários os índices e metodologias das "inflações". Logo, conhecer um pouco delas pode te ajudar a entender como isso te impacta no seu orçamento e investimentos, ou a escolher um índice específico para certo uso. Exemplo: quer considerar o valor do dólar no aumento dos preços? Use o IGP-M e não o IPCA. Quer isolar sua análise ao “varejo”? IPCA. E estes mais famosos não são os únicos: tem inflação do DIEESE, outros índices da FGV...


Aqui vale uma reflexão importante: para o seu planejamento financeiro pessoal, qual desses índices é o mais importante? Não vale responder “o menor”, porque isso só vai te trazer conforto e não a realidade… Aqui eu trago uma ideia do Gustavo Cerbasi - calcule seu próprio índice de inflação!


Como isso funciona? Simples:

  • Veja qual a cesta de produtos e serviços que sua família consome.

  • Calcule quanto que vocês vem gastando nessas coisas ao longo do tempo.

  • Viu algum aumento? Quantos por cento?

  • Qual o peso daquele item no seu orçamento?


Verificando isso, você pode chegar ao seu próprio índice de inflação. Faz muito sentido - afinal, a sua cesta de produtos e serviços é a que mais importa! Seus investimentos e seu patrimônio devem levar em consideração essa porcentagem - independente do que o IBGE ou a FGV dizem. Se você conseguir manter seus gastos inalterados, então, sua inflação será zero!


Espero que você, Viajante, agora consiga navegar melhor as questões sobre inflação!.


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Um abraço!

Seu Guia Financeiro


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